segunda-feira, 14 de abril de 2008

Morena na praia

Será uma das mais antigas recordações que tenho, ainda eu era uma criança com os meus 10 ou 11 anos. O 25 de Abril tinha sido há uns bons 2 anos atrás e dele tinha uma recordação incompleta, mas adorava a liberdade que se sentia. Falava-se de tudo abertamente pelas ruas, e a pornografia começava a aparecer, ainda envergonhada, nos escaparates dos cafés, sob a forma de revistas com mulheres nuas na capa.
Bastava-me, ao chegar a casa, ir espreitar se já tinha chegado a nova revista do Falcão ou do major Alvega à montra do café, para poder apreciar mulheres nuas, de magníficas mamas firmes como nunca se haviam visto, e nádegas expostas sem vergonha em poses inocentes. Estávamos longe dos tempos das Playboys e das Ginas, mas já tinhamos regalo para a vista.
Claro que eu, com aquela idade, apenas apreciava a estética do corpo da mulher em toda a sua beleza indomada. Não o fazia para ter ou aliviar tesões. Mas porque não achava nada mais belo que aquelas formosas montanhas de carne macia encimadas por mamilos escuros que não se escondiam por baixo de camadas de roupa assexualizante, e as curvas perfeitas de umas ancas que se abriam para enormes nalgas rasgadas pela fenda que ocultava o que ainda não sabia nem imaginava como era.
A liberdade trouxe a minha casa um segredo, que os meus pais ocultaram. Não sei quem o trouxe, nem para quê. Mas sei que ele existia e onde era guardado. Era um disco pequeno, de 48 rotações, com músicas eróticas em Português. Canções compostas por descrições de poses extravagantes e exigências femininas recheadas de referências a palavrões cujo significado desconhecia. Quando estava só, ia ao cimo do armário buscar aquele disco secreto e colocava-o a tocar baixinho para descobrir um novo mundo. Por entre gemidos e uma música conhecida, uma voz apalermada de um homem cantava lamentos sexuais às mulheres, quaisquer mulheres, com as quais imaginava prazeres que eu nem sabia existirem. Teria de esperar alguns anos, para perceber o que eram certas regiões anatómicas e certos actos que se podiam fazer com as mesmas, para entender aquelas canções. Já sabia que se fodia, mas nem sabia como isso se fazia. Punhetas, era uma coisa que ouvia falar mas pensava ser algo a ver com boxe. E outras coisas que aqui não posso contar.
Mas aquilo que me levava a procurar aquele disco, vezes e vezes sem conta, não eram aquelas estúpidas canções pseudo-eróticas ou a necessidade de me masturbar quando ainda nem o fazia, mas admirar a bela na capa do disco.
Perdia horas a imaginar aquela mulher tal como ela ali estava. Morena, de cabelos compridos, totalmente nua e descontraída. De gatas a trepar a duna duma praia quente, de mamas cheias penduradas, e pernas entreabertas deixando adivinhar a sombra duma rata sob as nádegas empinadas. E o olhar dela. Cabeça virada para trás, para o fotógrafo, olhar fechado pelo Sol, deveria estar à espera do click. Mas, para mim, aquele olhar era uma provocação, como se ela me dizesse "vais ficar apenas aí a olhar a minha bunda, ou vens-ma cá comer?"
Como era possível que uma mulher não tivesse receio ou vergonha de se despir para os olhares de um homem e ainda por cima o desejasse, era algo que eu só viria a descobrir muito tempo depois. Para já, novo e inexperiente como era, a felicidade era uma morena de gatas e cu empinado, chamando-me na praia.

(A seguir: Ejaculação prematura nos Caldeireiros)

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